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Apesar de crescimento tímido, mulheres conquistam espaço na construção


Apesar dos desafios que persistem no mercado de trabalho, as mulheres vêm ganhando espaço, cada vez mais, em atividades econômicas antes dominadas por homens. Embora tímido, esse movimento é perceptível em áreas profissionais da construção civil. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), divulgada pelo Ministério do Trabalho, em 2010, 7,8% dos trabalhadores formais do setor eram mulheres, cerca de 207 mil em um universo de 2,6 milhões de profissionais. Em 2021, 10,85% da força de trabalho da construção era do público feminino, 251 mil mulheres em um total de 2,3 milhões.

Um dos principais entraves na participação feminina no setor, destacou Ana Cláudia Gomes, presidente da Comissão de Responsabilidade Social (CRS) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), é o impacto financeiro nas empresas que precisam adequar o canteiro de obras para receber essas profissionais. “Uma questão que é levantada por muitas empresas é sobre o dimensionamento das áreas de convivência nos canteiros. Elas começam a considerar o custo em ter que dobrar espaços como banheiros e vestiários, por exemplo. O que pode se tornar inviável para empresas menores”, explicou.

Ana Cláudia destacou, contudo, que o número deve crescer de forma mais consistente nos próximos anos considerando fatores como o aumento da participação das mulheres nos cursos de engenharia. “A força produtiva no país é composta por mais de 50% de mulheres. Essa mulher precisa ser incluída na nossa indústria”, destacou.

Mapeamento realizado pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) entre 2020 e 2022 mostrou que há mais de um milhão de engenheiros registrados no Brasil, dos quais apenas 211 mil são mulheres.

Uma delas é Célia Catussi, que desbravou o universo predominantemente masculino e é a primeira mulher a comandar o Sinduscon Paraná Norte, em Londrina (PR), associado à CBIC. Desde que assumiu a gestão, este ano, a engenheira vem atuando para capacitar a mão de obra, principalmente das mulheres. O Sinduscon realiza cursos de formação em áreas como hidráulica, alvenaria e acabamento para azulejos e pisos. De acordo com a presidente, 50% dos estudantes formados eram mulheres. “A gente está conseguindo ser atrativo para a mulher no mercado”, destacou.

Célia aposta que o setor vem absorvendo, cada vez mais, profissionais qualificados, independente do gênero. “Noto uma maior maturidade da sociedade, que vai mudando ano após ano. O setor está forte e aberto para profissionais mulheres e tem valorizado cada vez mais sua capacitação e habilidade”, contou.

Também à frente de um dos sindicatos associados à CBIC está Maria Inês Menegotto, que trabalha na construção civil há 32 anos. Arquiteta, Maria Inês é a primeira gestora do Sinduscon Caxias do Sul e iniciou seu mandato este ano.

Para Maria Inês, vem acontecendo uma mudança gradativa na construção civil, agregando mais força de trabalho feminina. “Realmente o mundo da construção civil é um mercado masculino. É naturalmente entendido como um espaço dos homens. Essa é uma realidade que enfrentamos desde a nossa formação. Quantas mulheres mudaram de curso, saíram da engenharia mecânica, da engenharia civil, por se sentirem minoria, por ser uma dentre tantos homens. Mas não é preciso se intimidar. Sempre fui executora de obras, fiz mais de 250 mil m2 de obras sobre minha responsabilidade. Somos conhecedoras e trabalhamos sempre com afinco”, disse.

Elissandra Candido Silva foi a primeira mulher a assumir uma das entidades associadas à CBIC. Comanda o Sinduscon Sul Fluminense, no Rio de Janeiro, desde 2021, e apontou o desafio de estar em um cargo de liderança em um setor ainda masculino.

“Foram grandes os desafios para me posicionar. Um dos maiores desafios enfrentados foi a autocapacitação para que eu estivesse, a cada dia, mais habilitada para exercer minha função como presidente. Mas as mulheres têm um perfil mais integrativo e minha gestão tem sido nessa direção, compartilhada, participativa e integrativa. E temos tido muitos avanços”, disse.

A Associação das Construtoras do Vale do Paraíba também conta com uma mulher à frente da gestão. Maria Rita Singulano é a primeira presidente da entidade. Maria Rita acumula pioneirismo, foi também a primeira mulher a assumir o cargo de secretária de Obras e Habitação da Prefeitura de São José dos Campos (SP) e destacou a importância de incentivar a participação feminina no mercado e em postos de liderança.

“Cada vez que nós [mulheres] assumimos um cargo de chefia, outras mulheres notam que são capazes de assumir e muitas, que estão se empenhando para isso, se sentem mais fortes para lutar pelo cargo e posição que ambicionam”, disse.

Ieda Vasconcelos é outra personagem que contribui com o dia a dia da indústria da construção. Economista, Ieda é referência para dados e projeções do setor. Há 37 anos dedicada à construção, a economista destaca nunca ter se sentido preterida por ser mulher. “Durante todo esse tempo, me sinto lisonjeada. Infelizmente, sabemos que em várias categorias isso não é o comum no Brasil, mas meu trabalho sempre foi muito bem recebido”, disse.

Para ela, o maior desafio é a responsabilidade de trabalhar em um setor tão importante para a economia brasileira. “Para vencer esse desafio, foi preciso muito estudo e constante atualização. Minha trajetória tem me tornado cada vez mais capacitada para exercer essa função de ser a economista referência do Sinduscon-MG e da CBIC, a maior entidade representativa no setor do país”, disse.

Ações e desafios

A diferença salarial é um desafio ainda apontado pelas mulheres no mercado de trabalho. Ana Cláudia Gomes apontou a ação da Comissão de Responsabilidade Social da CBIC para incentivar mudanças e preparar as empresas para receber e fomentar o crescimento profissional das mulheres. “É uma mudança cultural. Esse tem sido nosso desafio e é o que temos mostrado para as empresas”, apontou.

A CRS prevê o lançamento de uma cartilha sobre diversidade e inclusão, a realização de trabalhos de qualificação de mulheres para a participação em cargos de liderança e a realização de pesquisa sobre a força de trabalho no setor, com o recorte na força de trabalho feminina. “Queremos fornecer aos nossos associados e empresas informações relevantes que possam ser utilizados nos seus negócios. A CBIC tem o compromisso de auxiliar o ingresso e o crescimento dessa mulher na nossa indústria. Nós queremos, realmente, ser uma indústria cada vez mais desejada e onde essa mulher seja acolhida, recebida e que tenha a oportunidade de crescimento”, concluiu.


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